De férias do fazer
Após um ano de 2023 atolada em afazeres, entre vários projetos de escrita, muito trabalho e uma mudança para a dinamarca, quando enfim pude tirar férias, só o que queria era não ter compromissos.
Olá! Meu nome é Pat Tischler e In-Sight é a newsletter onde divulgo os vários tipos de textos e histórias que escrevo. Para quem acabou de chegar, bem vindx! Se quiser saber um pouco mais sobre mim, aqui está o link para o meu primeiro post, onde conto um pouco sobre a minha trajetória.
No texto de hoje, falo sobre o mundo de possibilidades que se abrem quando posso não fazer nada.
Nesse mês de fevereiro, tirei férias para não fazer nada. E percebo o incômodo que algumas pessoas que convivem comigo sentem quando compreendem que não viajarei, e que não tenho planos específicos para visitar, para conhecer, para acontecer, para me "divertir".
Tenho algumas ideias, vontades, desejos, mas
Tudo o que eu quero é não fazer nada.
Para mim, nessa fase específica da minha vida, não ter obrigações é a maior liberdade e prazer que eu possa desejar.
Pois esses momentos sem ações, sem planos, sem a necessidade de ser produtiva, sem a incumbência de me divertir, são exatamente aqueles que me permitem
Ser.
Sentir.
Observar.
Me inspirar.
E só então, agir.
Por exemplo: no outro dia, decidi ir ver uma exposição do Dalí: cybernetics que pareceu interessante. E foi.
Mas, apesar de ser do outro lado da cidade, resolvi ir de ônibus. E nesse trajeto de ida e volta, descobri tantas coisas sobre essa cidade que ainda é uma estranha para mim. Passei por bairros que normalmente não passo, vi paisagens que até então não vira. Percebi algumas diferenças de habitantes e hábitos na medida em que cruzava regiões.
Um dos grandes presentes que recebi, por essa simples decisão de tomar um transporte que levou o dobro do tempo que levaria de trem, pois passou pelo intrincado roteiro de ruas e avenidas na superfície de Copenhague, foi encontrar uma loja de plantas linda. E não muito longe da minha casa.
Então, no dia seguinte, coloquei um par de tênis confortáveis e saí caminhando, na direção da dita loja, para ver se conseguiria encontrá-la, pois não tinha certeza de onde ficava exatamente. Não sabia nem se seria possível chegar a pé.
Cheguei. As plantas eram lindas, o ambiente úmido e delicioso. O rapaz que me atendeu, gentil e surpreso por eu ter lhe contado que viera até ali, pois havia reparado em sua vitrine no dia anterior, de dentro do ônibus. Eles, aqui, não estão acostumados com esse tipo de interação. Mas achei que ele deveria saber.
Saí de lá com três novas companheiras, e a satisfação de ter encontrado algo que me trouxe prazer pelo simples fato de eu não TER que fazer nada. Por não estar com pressa. Por ter tido tempo de levar mais tempo para ir e vir.
E olhar.
E ver.
E me permitir.
Seguir a pé, sem saber exatamente a distância. Usar alguns minutos para perguntar sobre como cuidar das minhas novas plantas e para elogiar o trabalho de alguém.
Isso para mim são férias.
Já viajei muito, não consigo nem chutar o número de museus, igrejas, templos, mostras em que estive. Dou muito valor a atividades culturais mas, hoje, gosto de ter tempo.
Tempo para me sentir inspirada a ir a uma exposição.
Tempo para me sentir atraída por um museu.
Tempo também para ficar só. Em silêncio. Investigando o que me vai dentro. Permanecendo vazia. Sem nada a fazer.
Se quiser ler, leio. Se não quiser, tudo bem.
Ando numa crise intensa de tédio com as plataformas de streaming. Difícil achar algo que me dê vontade de assistir.
Então ouço música.
Enquanto organizo meus projetos, penso em novos temas para escrever, inicio uma nova série sobre coisas que quero compartilhar.
Se, no momento seguinte, ler parecer a atividade mais apetitosa do mundo, paro o que estiver fazer e leio.
Cozinho quando me sinto inspirada. Se não, compro comida pronta, faço um macarrão simples, descongelo algo que agruardava um dia exatamente como esse. Que eu já havia preparado prevendo uma circunstância como essa. A de estar com preguiça de cozinhar. De fazer. De ter que resolver o que, comprar ingredientes. Ai. Hoje não.
Mas talvez amanhã isso seja exatamente o que quero. Coloco uma musiquinha, uma taça de vinho.
Que delícia estar de férias.
Posso sair para caminhar, só pelo ato de caminhar. E posso escolher uma direção para a qual normalmente não vou. Sabe aquele parque que vejo do trem todos os dias, mas que nunca paro para conhecer? Será minha aventura de hoje. Ou sigo até o mar, esse solzinho me diz que é um bom dia para sentir a maresia e fazer companhia para as gaivotas.
Falando em companhia, acho que quem está amando essas férias tanto quanto eu é o Nuno. Como assim, é possível ter a humana só para mim? Quase o tempo todo! Ele se aboleta em meu colo no meio da manhã, enquanto tomo meu café, e dorme tranquilo, confortável, seguro de que não vou desalojá-lo para ir a lugar algum.
Posso ir depois.
Posso ir amanhã.
Posso deixar ele ficar e aproveitar para ficar eu também.
Ficamos.
Sonhamos.
Ele, sonhos de gato, eu sonhos de humana.
Ele, sonhando dormindo,
Eu, sonhando acordada.
E mais um texto começa a se formar em minha cabeça. Fico colecionando trechinhos sem me preocupar se vou ou não conseguir lembrar. Deixa ele dormir, deixa as frases fluirem.
Depois, quando pesco uma das inspirações novamente, começo a teclar sem saber para onde aquelas palavras vão me levar.
Estou de férias. Não preciso de um propósito. Não preciso produzir. Não PRECISO nada.
Gosto de viajar. Gosto de conhecer novos lugares. Mas quando se passa tanto tempo quanto eu se mudando, às vezes a melhor viajem é local. É interna. É imóvel.
Queria poder viver o resto da minha vida assim, de férias do fazer. Nunca sou tão produtiva como quando não TENHO que fazer nada. E tenho tempo e espaço para apenas SER.
Obrigada pela leitura.
E até a próxima.
Pat
ahhhh que delícia...também de férias por aqui e inspirada com seu texto