Grimoire #1 - Meu livro de bruxaria
Rotinas, dicas, curas, rituais, a conexão com o intangível. Uma compilação de pequenos e grandes conhecimentos que me ajudam a navegar o meu corpo, meus sentimentos e meu dia-a-dia.
Olá! Meu nome é Pat Tischler e In-Sight é a newsletter onde divulgo os vários tipos de textos e histórias que escrevo. Para quem acabou de chegar, bem vindx! Se quiser saber um pouco mais sobre mim, aqui está o link para o meu primeiro post, onde conto um pouco sobre a minha trajetória. O texto de hoje dá início a uma série chamada Grimoire, inspirada pela leitura do mais recente livro de Hilarie Burton Morgan, “Grimoire Girl”.
De acordo com a definição comum, Grimoire, palavra de origem francesa, é um livro de feitiços, poções e amuletos, de como fazer adivinhação, invocar entidades supernaturais, anjos, espíritos e assim por diante.
Da maneira como eu vejo, os conhecimentos cotidianos costumavam ser passados oralmente, entre pessoas da mesma família ou que pertenciam a uma certa comunidade, em ensinamentos práticos ou por meio de histórias. Quando colocados no papel, como forma de torná-los perenes, especulo se não foram considerados como bruxaria apenas por tratarem de assuntos completamente alienígenas para as pessoas no poder, que preferiam ser elas a única fonte oficial de sabedoria.
Entre remédios caseiros, curas para diferentes males e talismãs para afastar energias indesejáveis, até informações sobre preservação de alimentos, plantio, cuidados com animais, menstruação, ciclos da lua, manutenção de um apiário, receituário de comidas e de outras utilidades como velas de cera de abelha ou sabonetes, imagino que esses tradicionais livros, escritos a muitas mãos por gerações de mulheres e homens, podem sim ter sido taxados como criminosos, hereges, demoníacos.
A minha não é uma família que goste de escrever seus conhecimentos. Eu até tentei criar, há umas décadas atrás, um blog para colocarmos nossas receitas tradicionais. Funcionou apenas por um curto período mas, hoje, apesar de eu ainda consultá-lo, ninguém mais o alimenta.
De qualquer maneira, cada um de nós, ao longo da vida, vai acumulando uma sabedoria que começa com a recebida de nossos ancestrais, que aprendemos e reproduzimos, e à qual em algum momento da vida começamos a acrescentar informações ou alterá-las, de acordo com nossas próprias experiências.
Assim é que, se sinto os sintomas iniciais de dor de garganta, faço gargarejo de água morna com sal até hoje, exatamente como minha mãe fazia e minha avó antes dela. Mas, atualmente, acrescentei alguns chás de ervas e especiarias que minha própria experiência ensinou ajudarem muito em caso de gripes e resfriados. Por outro lado, excluí de meus remédios caseiros o leite de canela que ela preparava pois aprendi, por meio da medicina ayurvédica, que o consumo de leite aumenta a produção de catarro, o que piora os sintomas da doença.
A minha proposta, aqui, seguindo o exemplo do mais recente livro de Hilarie Burton Morgar (que me inspirou), é compilar pequenos insights, lições, rituais, dicas e quaisquer outras informações que tenham me ajudado a fazer melhores escolhas e a curar o meu corpo, a minha mente, e o meu espírito. Como eu não procriei, e o fato de ser nômade dificulte manter contato próximo com minhas pessoas queridas, resolvi usar essa newsletter, já tão multi-assuntos e formatos, como o receptáculo de mais essa série.
Finalizo essa primeira edição com uma receita de desodorante que recebi da minha irmã, e sem a qual já não fico.
Há muitos anos atrás, decidi parar de usar desodorantes comerciais, especialmente os anti-perspirantes, pois não achava saudável impedir que minhas glândulas sudoríparas fizessem o seu trabalho. Isso sem contar questões relacionadas à forma de teste desses produtos em animais, uso de ingredientes derivados do petróleo e suas embalagens anti-ecológicas.
Após algumas tentativas mal-sucedidas, encontrei um desodorante chamado Crystal, que é uma pedra de sal de potássio mineral, que funcionou muito bem durante vários anos. Mas como tudo na vida, ele também tinha lá suas complicações, como o fato de que precisa ser molhado para usar, e que se a pedra quebrasse (o que acontecia com uma certa freqüência), muitas vezes acabava perdendo tudo, pois ela se estilhaçava ou ficava com pontas muito agudas para serem usadas. Isso sem mencionar que nem sempre conseguia encontrá-lo em todos os lugares onde morei.
No meu último retorno ao Brasil, após a pandemia, minha irmã havia começado a fazer vários produtos de limpeza ela mesma, entre detergentes de pia, de roupa e até shampoo sólido. Mas a melhor descoberta que ela me passou foi, sem dúvida, esse desodorante que usa, em grande parte, produtos facilmente encontrados e que tem um toque suave, seco e de fácil absorção. Então vamos à receita:
Usando como medida uma colher de sopa:
- 3 medida de óleos vegetais sólidos ou com solidificação próxima à temperatura ambiente - eu uso 2 colheres de manteiga de cacau e 1 de óleo de coco, mas minha irmã sempre diz que dá para mudar a proporção de acordo com o gosto pessoal e as peculiaridades do local em que a pessoa mora (mais quente, mais frio, mais seco). Ela às vezes substitui a manteiga de cacau por manteiga de manga.
- 2 medidas de maizena - sim, o velho e bom amido de milho, que dá uma sensação seca ao desodorante.
- 1 medida de bicarbonato de sódio - um grande aliado na limpeza de casas, confecção de bolos e, quem diria, na elevação do pH da pele para combater os fungos e bactérias que dão cheiro ao suor.
- de 5 a 10 gotas de óleos essenciais, entre eles o de melaleuca (tee tree), que também auxilia no combate às bactérias que produzem o odor do suor. Eu normalmente uso 5 gotas de melaleuca e 5 gotas de óleo de capim limão ou alecrim, para dar um cheirinho gostoso. Caso decisa usar uma outra medida, maior ou menor do que a colher de sopa, será necessário adaptar a quantidade de óleos essenciais usada.
A forma de preparo é bem simples: derreter os óleos vegetais em banho maria (devagar para não aquecê-los). Uma vez liquefeitos, é só juntar a maizena, o bicabornato e os óleos essenciais, misturá-los bem até ficar uma pasta mole homegênea. Aconselho utilizar um pote de vidro para seu armazenamento e uso, pois os de plástico podem soltar resíduos. Levar à geladeira por uma ou duas horas apenas para resfriar a mistura e pronto. É só aplicar nas axilas, de acordo com a sua necessidade.
Quem experimentar, deixa um comentário para me contar o que achou.
Obrigada pela leitura.
E até a próxima.
Pat