Grimoire #2 - Escrever um diário.
Essa é uma das rotinas mais valiosas que eu tenho para compartilhar: a de manter um diário.
Olá! Meu nome é Pat Tischler e In-Sight é a newsletter onde divulgo os vários tipos de textos e histórias que escrevo. Para quem acabou de chegar, bem vindx! Se quiser saber um pouco mais sobre mim, aqui está o link para o meu primeiro post, onde conto um pouco sobre a minha trajetória.
O texto de hoje é o segundo post do meu Grimoire, meu livro de bruxaria.
Eu sei que escrever não é para todo mundo. Tudo bem. A intenção do diário não é produzir uma obra literária. Não precisa ser gramaticalmente correto. Não precisa fazer sentido para mais ninguém além de para nós mesmos.
Não precisa nem ser por escrito, se esse é o fator que mais limita a sua prática.
Conheço pessoas que usam mensagens de voz para compilar seus diários. Há quem prefira papel e caneta, arquivos de computador, ou ainda notas no celular.
Eu passei anos usando rascunhos de email, para que eu pudesse acessar meu diário onde quer que estivesse, independentemente de ter meu computador à mão ou não. O importante é que seja um veículo adequado para que, no dia-a-dia, consigamos usá-lo com a frequência necessária.
Seja lá qual for o meio escolhido, a função do diário é ser um espaço seguro, no qual temos total liberdade para expressarmos sentimentos, emoções, pensamentos, conclusões e tudo o mais que estiver congestionando nossas mentes e, em especial, nossos sistemas nervosos.
Para mim, é uma forma de fazer a digestão do que está acontecendo em minha vida. E se consigo manter a rotina de escrever com regularidade, tenho a impressão de que as coisas não se acumulam, que ao teclar as palavras vou ficando mais leve, como se esse simples ato me livrasse também do peso de seus significados.
Já tive muitos modelos de diário. Houve épocas de crise em que praticamente vomitava frases que tentavam expressar sentimentos turbulentos. Quando leio trechos, muitas vezes mal consigo entender o que eu queria dizer. Creio que há páginas inteiras em que não usei um ponto final sequer, em um suceder de pensamentos desconexos e angustiados, que eu precisava tirar do meu peito e colocar em algum lugar.
Em outras épocas, adotei um tipo de estrutura em meu diário, que me ajudou a organizar a maneira de expressar meus tumultos internos.
O formato era simple, eu apenas tinha que responder, todos os dias, a duas perguntas: O que eu tenho para agradecer? O que eu quero?
Pode parecer tolo, mas o mero exercício de colocar tudo o que eu tinha para dizer dentro dessa estrutura já me fazia ver, seja lá o que fosse, com outros olhos.
Às vezes, as respostas eram amplas, quase existenciais, com conteúdos profundos que se referiam não apenas àquele momento, mas à minha vida de maneira geral. Positivas ou negativas, essas entradas visavam compreender o passado, me colocar no presente, e visualizar possíveis futuros.
Em outros dias, as entradas eram específicas, relacionadas com coisas concretas, tangíveis que me evocavam gratidão e desejo.
Houve também muitos momentos em que não conseguia pensar em nada que respondesse a essas duas perguntas. Nesses dias, ia diminuindo a amplitude de pensamentos até que conseguisse encontrar alguma coisa, qualquer coisa, que, naquele momento, honestamente me inspirasse gratidão ou vontade.
Em certas ocasiões, tudo o que eu encontrava para agradecer era o fato de aquele ser um dia bonito de céu azul, ou que naquela manhã eu pudera tomar minha xícara de café com tranquilidade. Em outras, tudo o que eu conseguia querer era uma taça de vinho após o trabalho, ou que aquele dia chegasse ao fim. Escrevi esse tipo de diário por anos e me fez um bem enorme.
Em algum momento, voltei a fazer entradas em formato livre, como uma forma de pescar e estar consciente do que me ia dentro. Observava que quanto mais longa a entrada, mais ativa estava a minha mente. E, se em algum dia tinha pouco a dizer, procurava observar se era porque estava livre de processos mentais, ou porque estava sem o tempo necessário para o exercício.
Muito recentemente, adotei uma nova forma de manter a rotina do diário: comprei uns cadernos lindos, que mantenho ao lado de minha cama. Todas as noites, quando já estou indo dormir, sento por alguns minutos e preencho uma página, frente e verso, com o que vier à cabeça. Se nenhuma ideia precisa se apresentar, começo com palavras aleatórias. Às vezes sai um assunto. Às vezes saem pequenos parágrafos desconexos. Mas seja lá o quão eloquente eu me sentir naquela noite, uma página é só o que me permito. Ao final, fecho o caderno, deito, apago a luz e finalizo o meu dia, mais leve e, quem sabe, livre de pensamentos que possam atrapalhar o meu sono. Tem ajudado.
Faço aqui um comentário para quem também é escritor, pois uma das coisas que descobri durante minha segunda licença é que, se eu conseguisse começar o dia escrevendo em meu diário, já ia aquecendo minhas habilidades sem a pressão de ter que escrever algo digno de ser lido.
No diário, tenho total liberdade gramatical, estilística, de conteúdo, que não precisa passar pelo filtro do que é aceitável, correto, belo. Mas a mente, uma vez em "modo-escrita", consegue passar de uma função à outra, a de produção literária, sem tanta dificuldade. E, de quebra, livre de assuntos que poderiam atrapalhar minha concentração.
De qualquer maneira, usar 10, 15, 20 minutos de meu dia no exercício de um diário é a chance que tenho de focar minha atenção em mim mesma, no que me vai no peito e na cabeça. A única coisa que preciso fazer é olhar e, então, registrar o que aparecer.
Talvez, no início, apenas saia aquilo que eu chamo de críticas a notícias de jornal, quando os acontecimentos externos parecem tomar conta de minhas preocupações. Tudo bem.
Quem sabe, aos poucos, a consciência consiga ser voltada aos reais porquês daqueles assuntos estarem no centro da minha atenção. O que, neles, me parece tão importante? Há como alterá-los? Consertá-los? Influenciá-los de qualquer forma?
Com calma e compaixão, tenho a chance de compreender quais os sentimentos por eles despertados e a sua origem. Quando consigo realmente ver o que me move, e o que está por trás de minhas palavras e ações, investigando as causas para essas emoções, abro espaço também para as soluções, para o desapegar-me do meu mundo mental, para a leveza.
O simples ato de voltar minha atenção para dentro e colocar no papel as palavras que descrevem o que lá encontro pode ser, quem sabe, o estopim de um processo maior de auto-conhecimento, de auto-aceitação e de auto-cura.
Quem quiser compartilhar suas experiências nos comentários, vou adorar saber.
E até a próxima,
Pat
Aqui adoro escrever diário, de sonhos e de conexão. Adorei a ideia que vc trouxe de escrever ser "uma forma de fazer a digestão". Bem isso! Obrigada, Pat
Minha experiência veio de sua sugestão mesmo, né? Ainda não tenho a regularidade que vc tem, porque sou mesmo meio zoado. Igualmente tenho em caderno específico e tenho conseguido escrever no trabalho somente. Acabo não escrevendo todos os dias, mas acho que vou seguir sua sugestão e escrever whatever.